Apagão em São Paulo acende alerta para os riscos do armazenamento de dados em data centers excessivamente concentrados no Sudeste.
Nove dias após a tempestade que atingiu a Grande São Paulo com vendavais de quase 100 km/h e que deixou mais de 2 milhões de imóveis sem energia, a capital paulista e outras 23 cidades da região ainda permanecem com cerca de 18.800 endereços no escuro.
Um cenário de calamidade pública que lembrou ao coração econômico do Brasil que a robustez digital ainda é refém da fragilidade física.
A dificuldade de proteção e recuperação de dados que sustentam operações críticas de comércios, indústrias, hospitais, bancos e órgãos públicos durante fenômenos naturais intensos é uma preocupação relevante para o ambiente corporativo.
São os data centers abrigam essas informações em segurança e, se afetados, podem causar a paralização de empresas e serviços, causando um prejuízo milionário.
Mas o que são os data centers e como eles ‘seguram a barra’ em cenários inesperados e de recursos limitados como no apagão de São Paulo? Descubra neste artigo.
O que são data centers?
Data centers funcionam como o cérebro físico da internet e das operações digitais. São espaços arquitetados para serem resilientes diante de qualquer tipo de incidente ou desastre.
Essas estruturas abrigam servidores: computadores super potentes que guardam todo tipo de dados que sustentam sites, aplicativos e operações de negócios.
Manoel Filho, gerente de operações do data center da HostDime Brasil, descreve o esquema de máquinas e conexões como “a espinha dorsal da internet e de tudo o que existe nela.”

Uma questão de localização estratégica
"Se você tiver um apagão, um terremoto ou incidente, todos seriam afetados. É preocupante do ponto da gestão de riscos concentrar a infraestrutura digital em poucos locais"
| Carlos Baigorri, presidente Anatel
Dos 162 data centers existentes no Brasil, 68% estão concentrados no Sudeste. Não é incomum que, nesses cenários, a descentralização se torne um requisito de gestão de risco.
Baigorri alerta para o risco da concentração massiva de data centers no eixo Rio-São Paulo ao afirmar que "colocar todos os ovos na mesma cesta" em um país de escala continental criou pontos únicos de falha que podem paralisar o país.
A fala do presidente em outubro de 2025 pareceu prever o futuro. Dois meses após a constatação, a capital mais populosa do país sofreu um apagão generalizado como consequência de fenômenos naturais intensos.
Um incidente localizado em um grande hub tem repercussões em cascata para toda a rede nacional. A dependência de poucos pontos de conexão física limita a resiliência do Estado e das empresas frente a crises externas ou colapsos de rede.
Em São Paulo, estado com mais data centers do Brasil, o risco é o esgotamento da infraestrutura urbana. Em Fortaleza, a preocupação reside na Praia do Futuro, onde o desembarque de 16 cabos submarinos internacionais cria uma concentração de tráfego que, se comprometida, isolaria o Brasil digitalmente.
Como a localização do data center influencia o desempenho da sua operação?
A decisão de onde os dados de uma empresa estarão fisicamente hospedados envolve continuidade operacional, gestão de riscos, desempenho de aplicações e até eficiência financeira. Ao escolher um data center para alocar seus dados, as empresas devem observar os seguintes tópicos:
- Latência e desempenho de rede
Latência é o tempo que um pacote de dados leva para ir do usuário até o servidor e voltar. Quanto maior a distância física e a concentração de tráfego em um mesmo hub, maior tende a ser a latência.
Ambientes concentrados no eixo Rio–São Paulo sofrem com congestionamento estrutural de redes, rotas sobrecarregadas e maior dependência de pontos únicos de falha.
Data centers localizados fora desse eixo, quando bem conectados, oferecem rotas alternativas e menor competição por recursos, resultando em maior previsibilidade de desempenho.
A HostDime Brasil, data center mais certificado da América Latina divide sua operação entre João Pessoa e São Paulo, mantendo assim zonas de concessões estratégicas em dois pontos importantes do país. Além disso, a empresa opera em outros cinco países: México, Colômbia, Estados Unidos, índia e Reino Unido.
Suporte técnico e controle operacional
Nem todo data center oferece o mesmo nível de controle sobre a infraestrutura. Operações críticas exigem suporte humano especializado, 24x7, com capacidade real de atuação física no ambiente.
Estruturas próprias, operadas pelo mesmo grupo que vende o serviço, eliminam intermediários, reduzem tempo de resposta e aumentam a capacidade de resolução em incidentes complexos.
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Segurança física e lógica dos dados
A segurança não se limita a firewalls e criptografia. Ela começa no território. Regiões com menor histórico de desastres naturais severos, menor densidade urbana extrema e infraestrutura urbana menos saturada oferecem condições mais estáveis para operações contínuas. Somam-se a isso controles rigorosos de acesso físico, redundância elétrica, climatização independente e certificações internacionais.
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Capilaridade e redundância geográfica
Empresas que concentram toda a infraestrutura em um único estado ou cidade ficam expostas a falhas sistêmicas. A capilaridade geográfica permite estratégias reais de disaster recovery, backup fora da região primária e continuidade de negócios, mesmo em eventos extremos.
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Custos operacionais e eficiência financeira
Regiões saturadas apresentam custos mais elevados de energia, espaço, impostos e expansão. Fora dos grandes centros, é possível obter melhor custo-benefício sem abrir mão de performance, além de aproveitar incentivos fiscais voltados à descentralização da infraestrutura digital.
A escolha estratégica da HostDime por João Pessoa
Ao construir sua primeira filial fora dos Estados Unidos, a HostDime Brasil tomou uma decisão que contrariava o senso comum do mercado brasileiro ao ser inaugurada em 2006. Em vez de seguir para o eixo Rio–São Paulo, escolheu o Nordeste. Mais especificamente em João Pessoa, na Paraíba.
A capital paraibana é uma região com baixo histórico de desastres naturais severos, excelente estabilidade climática, infraestrutura urbana menos saturada e conectividade robusta com os principais pontos de troca de tráfego do país.
Segundo Manoel Filho, gerente de operações da HostDime Brasil, responsável pela operação dos dois data centers da empresa no país, a escolha teve como base critérios objetivos de risco e resiliência:
“A decisão por João Pessoa passou por análises profundas de clima, energia, conectividade e risco sistêmico. A ideia sempre foi garantir que a infraestrutura dos clientes não estivesse exposta aos mesmos pontos únicos de falha dos grandes centros.”
Localizada a mais de 2.400 km do eixo Rio–São Paulo, João Pessoa oferece redundância geográfica real, protegendo operações críticas de eventos climáticos extremos, colapsos urbanos e apagões em grandes metrópoles.
A construção de um data center próprio no Nordeste também reduz a dependência de redes elétricas antigas e sobrecarregadas, comuns em regiões metropolitanas saturadas, criando um ambiente mais previsível para workloads críticos.
Descentralização como vantagem competitiva
O debate sobre descentralização da infraestrutura digital já ultrapassou o setor privado. O Governo Federal sinalizou claramente esse movimento ao estruturar o Redata (Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center), com previsão de R$ 5,2 bilhões no orçamento de 2026 para incentivar a expansão do setor no Brasil.
O ponto central está nas contrapartidas: o Redata estabelece benefícios fiscais mais agressivos para investimentos realizados fora do Sudeste, especialmente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Hospedar dados em regiões como João Pessoa é também uma decisão de eficiência tributária e otimização financeira alinhada à política pública de diversificação da infraestrutura nacional.
Manter 100% da infraestrutura de TI concentrada em São Paulo ou no Rio de Janeiro após os eventos de 2025 passa a ser uma negligência na gestão de riscos.
Os apagões, eventos climáticos extremos e alertas regulatórios indicam que a centralização excessiva da infraestrutura digital cria fragilidades sistêmicas que impactam empresas, governos e a economia nacional.
Hubs emergentes como João Pessoa oferecem segurança climática, redundância de rede, previsibilidade operacional e incentivos fiscais, compondo uma nova lógica de resiliência digital no Brasil.
Em 2026, a descentralização geográfica atua como uma apólice de seguro real contra a paralisia operacional.